quinta-feira, agosto 29, 2013

Vazio de alma

Os seus olhos perscrutavam a escuridão da pequena sala de estudo. Naquela noite nem a lua se vislumbrava no céu.
Pequenos fiapos de nuvens dançavam ao sabor do vento que as impelia para novas paragens. Duas horas da manhã.
O sono teimava em manter-se longe da sua cabeça e da sua cama.
Naquele lago de escuro e silencio, buscou a cadeira que estava de fronte à lareira agora apagada. Nao fazia grande sentido estar acesa... Era Verão.
Afundou-se nela deixando escapar um pequeno suspiro, como se a alma limpasse preocupações e frustrações do dia a dia.
Deixou-se inundar pelo silencio. Calou, até, a voz dos seus pensamentos. Ali ficou no vazio. 
Na sua cabeça as imagens deste dia desfilaram numa procissão dolorosa. O velório na capela da quinta. A procissão fúnebre até ao jazigo de família. Os últimos adeus.
Respirou fundo uma e outra vez. 
Perto uma porta abria-se... Uma voz calma e tranquila falou vai dormir...
Olhando o vulto que se formara entre a luz e escuridão da pequena sala de estudo respondeu, também tranquilamente, como posso ir dormir se ainda não acordei...
E ali ficou no vazio do vazio da sua alma. Naquela noite do dia em que levara o seu bem mais precioso à última morada.

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