25, 26, 27, 28, 29, 30… 1 insuflação eficaz… 2 insuflações eficazes…
O ritmo mantinha-se sempre constante 30 compressões e 2 insuflações. Há quanto tempo estava nisto? Alguém disse”… vamos para os 30 minutos…”. Trinta minutos… parece tanto tempo e no entanto é tão pouco quando tinha um coração debaixo das sua mãos e o tinha que manter a trabalhar. Parece tanto tempo…
Uma voz ouviu-se, ao longe, que o despertou do ritmo mecânico… “Podem parar… não há mais nada a fazer”.
Os seus olhos percorreram o corpo inanimado, inerte e frio. Tubos e fios… agulhas e seringas…
22 anos. 22 curtos e inconscientes anos. Nunca viriam a ser 23… pararam eternamente. Porquê? Tudo porque há sempre pouco tempo quando temos 22 anos. Tão pouco tempo. Mas agora tinha todo o tempo do mundo… Toda a eternidade.
Naquela estrada ficavam os sonhos de uma vida… A universidade… A namorada… Os pais… e os seus sobrinhos. Duas crianças que nunca mais iriam encontrar o seu olhar. O tio que os fazia rir e brincava de “cavalinho”.
22 anos…
As mãos que antes comprimiam o peito apertavam-se numa raiva contida e muda. "Porquê?"
O médico aproxima-se… ausculta o peito e olha em volta. “Malditas motas”…
Não… as motas não matam ninguém. São como as armas. Por si só não matam ninguém.
“Adeus, puto…” disse olhando para as suas mãos. As mesmas que a pouco lhe tentavam salvar a vida. Ao longe conseguia ver a mãe e o pai dele. Os olhos de dor de ambos.
Por dentro desejou correr e tentar tirar aquela dor de lá de dentro. Mas a sua própria dor também doía… e muito.
“Adeus… puto… a gente vê-se por ai… algum dia. Toma conta da avó lá encima e dá-lhe um beijinho meu”
Estas foram as ultimas palavras que dirigiu ao primo. Aquele que ele tentara salvar a vida.
1 comentário:
Olha, conseguiste tirar um tanto da minha respiração...
Lembrei-me do meu primo; de sua triste viagem ao desconhecido.
É sempre uma lacuna, uma dor onde não há pele para sentir.
Que dizer disto? Viver mesmo, e aproveitar o dia.
Abaço.
Ricardo
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