quinta-feira, julho 01, 2010

Disparou!!

E "disparou"... Num pulsar de adrenalina lançou-se no desconhecido, inspirando a distância que o separava da meta em golfadas de vento.

Minutos antes tinha estado num espaço só seu. No seu pequeno mundo. Agora pertencia ao cosmos. Fazia parte de tudo e tudo era parte de si.

Os seus pés, há pouco tempo serenos, eram agora dois cometas em busca de um lugar ao sol. Mal tocavam o solo... Antes parecia que voava ao invés de correr.

Tinha um único sonho… um único propósito… Chegar ao fim. Marcar a sua posição.

Milhares de olhos viam-no mas só dois interessavam. Dois olhos que ele só podia ver com os olhos da alma.

Esses dois que o tinham disparado para as competições, para a ribalta das corridas. Os olhos do seu pai.

Os olhos que o tinham visto crescer e que o tinham incentivado a correr e a viver. Os olhos que ele tinha visto lutarem por tudo aquilo em que acreditava. Até aquele fatídico dia em que entrou na loja do bairro.

Era um dia calmo, não muito diferente do dia de hoje. O sol brilhava e os pássaros pipilavam alegremente. Ia com o pai comprar leite para a sua irmã mais nova. Corria a frente do seu pai sem reparar no assalto que decorria na loja do bairro.

Um rapaz (pouco mais velho que ele) saía de arma em punho, abraçando o que conseguira arrancar ao velho dono da loja.

O seu pai tentou acalmar o jovem… mas ele disparou… Tal como ele disparara naquela pista e correra lembrando-se daquela bala que roubou a vida daquele que mais amava.

A bala tirou-lhe o Mundo… A lembrança deu-lhe o ouro… E foi tudo pelo pai…

Aquele que disse um dia… “Tem calma, não dispares”… Mas ele disparou.

Também "disparado" na Fabrica de Letras

6 comentários:

A Loira disse...

Gostei da participação. É a primeira vez que participo, mas gostei bastante de ver as diferentes prespectivas que um tema pode abordar.

Louise disse...

Grande intersecção de acontecimentos.
Parabéns pela participação.

Poetic Girl disse...

Tantas formas de disparar não é? beijoca

Ricardo Fabião disse...

E ele levará consigo um coração sempre disparado;
um buraco na existência.
Não há corrida que cure,
não há distância que apague.

Minha primeira vez aqui.
Gostei.

Abraço.
Ricardo

Tulipa Negra disse...

Muitas vezes é ao recordar pessoas que já não estão connosco fisicamente que temos coragem para avançar e alcançar os nossos objectivos. Gostei muito.

Unknown disse...

Num rasgo de volúpia e admiração, fiquei rendida aos encantos deste texto...

Muito bom! ;)

(mas eu já sabia que escrevias bem... Bá - Luv U!!!!)